terça-feira, 14 de agosto de 2007

Intervalo

...e dentre as complexidades vitais, breves interlúdios oportunos regem com o mesmo vigor de antes; queira ou não queira...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O Sonho da Metamorfose

A lagarta cria um mundo
Usando-se do casulo
E protege-se ao fundo

Mas ela quer voar
O casulo a se quebrar
Deixar o vento a levar

Começa o desafio
Arrebentar cada fio
Antes tecido ao frio

A luta é constante
Quanto mais a luz lhe aparece
Mais lhe parece distante

Muito distante de se alcançar
Pois tudo o que consegue é observar
E de longe, muito caminho percorrerá

Depois de tempos, algo acontece
Há muito, era isso o que sonhava:
Asas, repentinamente, lhe aparecem

"Voar, voar, voar...
Sonhar, sonhar, sonhar..."
- A lagarta suspira lá do escuro.

sábado, 30 de junho de 2007

Caixinha de Lembranças

Memórias e lembranças empacotadas eternamente para nunca serem abertas. Elas vagueiam por dentro da caixa, para cima e para baixo, mas não têm escapatória. A solução é se acostumarem e viverem ali, em harmonia. Harmonia de lembranças: as más se juntam às boas, completando-se. A sensação da experiência, o aperto, as lágrimas, o leve sorriso sem mostrar os dentes... Uma viagem sem volta, onde poucas escapam.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Proteção Amnesíaca

Como pode chover por uma nuvem tão pequenina? Apenas um vapor branco passando pelo céu, inevitavelmente. Toda vez que olho para cima, uma gota fria mergulha em meu olho. A nuvenzinha cheia de rancor chove em minha cabeça, e eu tenho algumas escolhas que, por mais que eu tente, às vezes não consigo lembrá-las ou usá-las: posso sair correndo e fugir covardemente ou usar o guarda-chuva... Aliás, que guarda-chuva?

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Solidariedade

Bem ao fundo concentrava-se a mais esbranquiçada e densa névoa de minha vida. Entrando em meus poros, tomando meu oxigênio, tornamos um só. Quando crescemos voamos em direção ao mar, esbarrando-se com as grandes nuvens que vinham na contramão. Desci e mergulhei, tornando-me líquido, saindo do branco, entrando em brânqueas; até encontrar o repouso final. No fundo do mar fiquei, iniciei a grande viagem ao centro. O magma não é tão quente quanto se imagina; em alguns dias cheguei ao que deveria ser o ponto nuclear. Entrei, lugar árduo e sufocante, até uma enorme força puxar-me para cima (ou para baixo?). Nesse momento, deixei-me levar como o vento. Saindo, deixei-me levar com o vento. Tanto esforço para voltar às origens: sólida solidão...

terça-feira, 29 de maio de 2007

Armadilha

Necessito o vazio, como necessito o tempo, para preenchê-lo. Mas esse tempo parece ser eterno, fazendo-se assim da ansiedade, seu obstáculo. E a perfeição que sonho é tão doce, contrastando com o amargo vazio. Sim, o tempo é eterno. Gostaria eu que a bateria do relógio acabasse. Parar! O minuto sendo devorado ferozmente, e chupado até o caroço. Porém, o sabor acaba: a inércia é finita. A pilha seria trocada, ou a razão da existência seria extinta. O vazio dominaria sem os tão aclamados sonhos. A amargura aliviaria o doce nauseante de antes, mas este último não mais voltaria. Agora sim, entenderia: necessito esse vazio e necessito o tempo, para preenchê-lo, assim como devo driblar os obstáculos...

sábado, 26 de maio de 2007

Ciclo Eterno dos Naipes, Parte II

E se, então, o velho curinga aparece, minha sobrancelha se levanta: estava ali o tempo todo! Sou derrotado com essa grande cartada e à sua mercê, permaneço intacto. Continuo acorrentado, mas sendo levado corredeira abaixo até às lindas cataratas, que escondem os maiores tesouros da natureza. Esse passeio é sufocantemente aterrorizante, mas suportável. Porém, após a grande queda nas cachoeiras, o rio me engole. Conheço todas as sombras que tapavam-se atrás da porta. Elas entram em mim e uma chave fecha um cadeado em minha boca. Visito o carteador. Ele me diz para subir as cachoeiras. É muito difícil para mim, ao invés disso procuro a chave: as sombras em mim são mais doloridas do que a vontade de voltar ao momento em que o curinga me apareceu.